Leitora de Marcos Rey desde a adolescência (comecei com O Rapto do Garoto de Ouro), demorei mas cheguei ao espetacular Memórias de um Gigolô. A história da prostituta Lu e de seus dois gigolôs foi escrita em 1968 mas continua atualíssima. Transcrevo logo abaixo alguns dos melhores momentos da obra - de tão bem escrito, parece que ao ler esse livro estamos vendo um filme.
(arquivo pessoal)
"Meu pobre garoto, é preciso adivinhar. Desconfie das pessoas. A humanidade não presta. Cuide dos doentes e dos velhinhos. Mas abra os olhos com os outros." (da tia ao gigolô Mariano)
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"Há mistérios, meu filho, ninguém é de ninguém. Este é um planeta podre. Deus está arrependido. Afaste-se de todos, esconda-se, não estenda a sua mão a qualquer um." (idem)
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"Não tem graça alguma, nem beleza, nem poesia, não ter onde dormir. A miséria é feia, cruel, maldita, imbecil e apavorante." (do gigolô Mariano)
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"O ser humano é um escravo da cor." (do gigolô Mariano)
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"Não sei se já falei do fascínio da cor; se não o fiz, faço-o agora. Até o touro, um dos menos cultos dos animais, ama a cor: o vermelho. Usam-na para atraí-lo e matá-lo. Os imperadores, tiranos, ditadores e reis coloriam seus domínios com cores fortes, berrantes e agressivas. Foram as cores que tornaram vitoriosas a indústria automobilística. O arco-íris, como todos sabem, tem sete cores. o céu é azul, a floresta é verde e a virtude é branca. Tudo tem cor ou muitas cores. As fábricas de tinta prosperam. os negros sofrem complexo da cor. Quando se quer dizer que uma pessoa se anulou, dizem que ela perdeu a cor, ficou pálida. Gagárin, há não muitos anos, contaria: a Terra é azul. Daí o sortilégio, o impacto e o deslumbramento da minha gravata bordô." (do gigolô Mariano)